Por que shoras, Shor?
O buraco de Alice e o coelho fugitivo
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9/9/20252 min read
Por que shoras, Shor?
O delegado Fábio Alvarez Shor não é apenas um nome em autos judiciais. É a encarnação de uma velha figura: o vassalo que se curva diante do senhor, o submisso que encontra no chicote do Dom a ilusão de sentido. Não atua como servidor da lei — antes, como devoto servil do poder de Alexandre de Moraes.
La Boétie, em seu Discurso da Servidão Voluntária, já advertia: “São os próprios povos que se deixam, ou melhor, que se fazem submeter, pois, deixando de ser livres, se tornam escravos.” Shor não precisou ser coagido. Ele se ofereceu. Não por dever, mas por desejo.
O ritual da submissão
Shor não se limita a contemplar as sombras — ele as deseja. Não como quem teme o escuro, mas como quem nele encontra o gozo secreto da submissão. A tirania de Moraes é o espelho no qual projeta um poder que jamais possuirá; um brilho emprestado que o fascina e o humilha. Sua devoção não é de servidor da lei, mas de cortesão neófito em cabaré político, excitado pela mera proximidade do chicote intelectual do seu senhor.
Nietzsche já havia descrito esse movimento: a moral de escravo que não ousa criar, mas apenas imitar. A sombra do dominador se torna refúgio, e a fraqueza disfarça-se em virtude. Foucault acrescentaria: o poder, quando internalizado, não precisa mais de correntes — basta o corpo dócil, que goza na disciplina.
A idolatria do poder
Os gregos sabiam que todo excesso gera monstros. Alexandre de Moraes ergueu-se como inquisidor supremo, mas o que lhe dá força não é apenas sua toga — mortalha vil com a qual se fantasia de guardião — mas também os vassalos que o sustentam, oferecendo-lhe voluntariamente suas vozes, suas assinaturas e seus selos nos registros arcásticos.
Shor não é um braço diligente, mas o próprio colar da submissão. Como Ícaro, acredita que sua proximidade com o “senhor” o eleva; mas suas asas são de cera, frágeis diante do sol da História. E como Prometeu acorrentado, sua pena não será a águia devorando-lhe o fígado, mas o rastro indelével da vassalagem e da covardia que carregará até o fim.
Por que shoras, Shor?
Shora porque os arquivos da Vaza Toga desnudam a farsa.
Shora porque sua assinatura não é linha em processo — é cicatriz no corpo da instituição a que indignamente ainda pertence.
Shora porque defraudaste a Constituição.
Shora porque a História não absolve submissos que ajoelharam sua dignidade diante de tiranos.
Vincent murmura: “Nenhum choro redime a servidão voluntária. O submisso que idolatra o poder é cúmplice da tirania que o devora.”
O veredito
O Brasil não assiste a julgamentos, mas a rituais de dominação. O chicote já não é de couro, mas de caneta; a coleira já não é de ferro, mas de despacho judicial.
E Shor, vassalo miserável de sua própria ruína, segue ajoelhado, prestando culto ao arbítrio sombrio de Hades.
Por que shoras, Shor?
Porque já não há absolvição possível.
Porque todo submisso de tirano termina esmagado pelo peso do altar que ajudou a erguer.
E como em Alice no País das Maravilhas, descobre tarde demais que correu atrás de um ego que, agora caçado, revela-se apenas o coelho errado.
E quando cair no buraco — fundo, interminável, grotesco e frio — não encontrará maravilhas. Apenas o rastro da sua covardia.